quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


A SANTA CEIA 
(um conto de Natal)

Relembrando alguns de meus Natais...
Lembrei-me de um, onde eu e a minha
Ex-esposa Cristiane estávamos em nossa sala,
Na casa do Proença.
Tomávamos uma taça de vinho à
Espera do momento da ceia.
Nossa ceia esse ano teria que ser
Prematura, porque no dia seguinte
Pegaríamos a estrada, numa viagem longa.
No portão escutamos uma seqüência de
 "Ô de casa"...
Embaladas por palmas, quase inaudíveis,
Abafadas, sem brilho...
O cansaço tira a virilidade...
Com voz e com as mãos não poderia ser Diferente!
O dono dessa, e voz e dessas palmas? 
Um senhorzinho de estatura baixa,
Mãos grosseiras; mas não acerbadas,
Os olhos sofridos; mas com uma forte
Pincelada de amabilidade.
Portava o sorriso mais largo e verdadeiro
Que já pude presenciar entre os lábios de 
Uma pessoa em toda a minha vida.
Trazia consigo um saco de aniagem,
De espaço inferior o que em ti pudesse
Adentrar, de peso maior do que o peso
Do seu próprio algoz.
Sempre achei que deveríamos levar
Sobre as nossas costas, o que nosso corpo 
Pudesse aguentar. 
Naquele dia percebi que estava
Equivocado sobre o tema!
As costas necessitam sim,
Em agüentar todo o peso da desigualdade 
Que a vida nos faz carregar!
Ele falava que estava desde cedo 
Vagando pela cidade, pedindo alimento, roupa...
Pois estava desempregado
E sua família vivia numa grande necessidade...
Bateu em nossa porta, na boca da noite...
Por detrás das grades do portão contou as suas agruras, 
Nós, depois de escutarmos as mais sinceras palavras
Saídas da boca de um ser humano
Nos sensibilizamos...
Findava seu monólogo dizendo
Que ainda precisava fazer uma grande 
Peregrinação até o seu calvário. 
Nós o atendemos...
Pedimos que esperasse um pouco...
Descemos a rampinha de nossa garagem
E dirigimo-nos para a cozinha da nossa casa.
Recolhemos tudo que tínhamos...
Não precisaríamos levar todo aquele
Fardo sobre nossas costas 
Para o lugar que seguiríamos após
O término do nosso Natal.
Entregamos aquele montão de coisas,
Que pra nós não existia o menor valor,
Diante daquele contexto.
Recebemos os agradecimentos louvados. 
Olhei para o lado...
Não encontrei a presença de Deus.
Decerto estava em sua "Santa Ceia".
Passamos o resto da noite chorando,
Eu e minha ex-esposa Cristiane
Alimentados da essência do
"Espírito de Natal".
Até hoje choro quando me lembro desse dolorido
Natal.

PS: Um conto de Natal escrito e 
      registrado por Doca Furtado.

Aos amigos
Os meus sinceros votos de Boas Festas
E um ano repleto de conquistas e compartilhamentos.
Um grande beijo
Valeu, valeu.
Doca Furtado

Nenhum comentário: